sábado, 12 de abril de 2008

Cantinho da Poesia

Imperatriz Melancólica

Queria ver-te feliz
Como naquelas manhãs de sol que inspiram poetas do mundo inteiro
Queria lembrar-te bela
Como os saudosos andarilhos que têm em sua terra natal seu âmago
Queria tê-la em mim em paz
Mas o que fazer se a guerra de muitos mundos refletem em ti?
Queria vagar por entre tuas ruas, contemplando tuas artérias
Mas de que modo, se tua insegurança aparece em cada esquina?
Oh, cidade outrora bela e gentil
De crianças nas calçadas, de pião, cabra-cega, pula-corda, amarelinha e bola-de-gude
Por onde andam tuas crianças?
Por onde brincam teus filhos?
Aprisionadas em seus muros cada vez mais altos, mais modernos, mais seguros
Por qual mundo vivem teus filhos?
Hoje presas a uma mesa
Conectas ao mundo por redes pulsantes
Onde o real e o imaginário se confundem
Onde a esquina e o mundo são eqüidistantes
Onde o vizinho e o estrangeiro são a mesma pessoa
Onde mercado é shopping, ser jovem é ser teen
Onde para ser feliz tenho de ser in
Como vê-la felizSem tê-la por inteiro?
O rio que te margeia aos poucos míngua
Esgotado por suas artérias que outrora o irrigavam com águas límpidas e muita vida
Hoje injetam veneno que o mata aos poucos.
Cotidianamente
Mas pra que a pressa, minha cidade?
Se teus rios, riachos e lagoas representam, por gravidade, o andar mais baixo?
Como que fosse uma sátira a teus filhos
Que aos mais pobres relegam os restolhos dos teus mais abastados
Talvez a vida no futuro nos ensine
Que fazemos parte de um todo: uma cidade indivisível
Que o teu majestoso rio é, na verdade, filho do Bacuri, do Cacau, do Barra Grande, dos riachos que teus filhos insistem em matar
Assim como tua riqueza é filha do trabalho de josés, manés, joões, anônimos seres
Que mais do que rostos, têm nome, têm vida, são gente
Por esperança fica o sonho
De tê-la forte
De vê-la bela
De desfrutá-la em sua completude
De deixá-la melhor para os que virão
E para os que virão após estes
E farás jus ao teu lindo nome: IMPERATRIZ!

-Gildomar Marinho, meu pai.